A relação que você, empreendedor, tem com sua empresa, promove o crescimento recíproco?



Muitas podem ser as motivações para empreender. Há quem o faça à procura da realização de um sonho pessoal ou pela necessidade de atender a uma demanda financeira. Experiências de sucesso e de insucesso estão todo dia na mídia e nas redes sociais, cada uma delas comporta a diversidade de objetivos de quem empreende. Depois de viver uma experiência empreendedora, no entanto, a pergunta que fica é: os motivos reais do sucesso ou do fracasso são de fato entendidos?

Nos meus anos de prática com Coaching de Negócios, sempre me chamou atenção a relação que o empreendedor assume com sua empresa e o que ela representa em sua jornada. Isso porque o que compõe o sucesso ou o insucesso da empresa e do empresário está profundamente associado à relação consolidada entre ambos. Fundar um negócio e geri-lo é uma questão administrativa, técnica, racional e lógica. Exige não só características de perfil, recursos e competências, mas também envolve uma dimensão emocional, muito pessoal e irracional.

Nas conversas durante o processo de Coaching, percebo como o empresário fala de sua empresa norteando-me por alguns questionamentos: quanto ele ama aquela obra? Qual seu real sentimento pela empresa? O que ela significa? A empresa pode se tornar a sua “melhor amiga”? Ou, quem sabe, um filho ou filha?

Lembro-me de um empresário que, depois de alguns revezes na história da empresa, sentia-se mal ao ver sua logo nos carros circulando pela cidade. Ele havia perdido a crença no seu negócio, pois, após cometer alguns erros que geraram certas consequências, mostrava-se decepcionado consigo mesmo e com a sua empresa Como evitar chegar a tal ponto?

Neste artigo, utilizando um caso extraído da minha experiência como coach, será possível entender de qual maneira a relação entre empresa e empresário é determinante.

Qual é o seu negócio?

Antônio, 56 anos, demitiu-se após 30 anos de carreira em uma empresa de controle familiar onde era o primeiro executivo depois do fundador. Foi um excelente Diretor Industrial e líder inspirador dos seus colaboradores, sendo exigente com processos, qualidade e custos. Ele, habitualmente, aparecia na troca de turno para agradecer o trabalho bem-feito e estimular seus times a irem para casa descansar e cuidar da família. Acreditava que, dessa maneira, o colaborador voltaria para o trabalho com disposição renovada para oferecer o melhor de si.

Como Engenheiro Eletricista, visualizava soluções para qualquer problema da área por mais complexo que fosse. Ficava claro em seus relatos que eram implementadas com facilidade. Mas suas competências iam muito além: da gestão à navegação, à consultoria, ao treinamento, sendo também um exímio chef de cozinha entre seus muitos hobbies.

Ele veio em um contrato de Coaching de Carreira porque vivia um momento de indefinição diante de tantas opções: poderia aceitar convites e voltar a ser executivo; abrir um restaurante; ser consultor.

Qual seria o caminho agora?

Entre uma sessão e outra do processo de Coaching, um amigo o convidou para se tornar sócio de uma empresa que fabricava lanchas e outras embarcações. Tratava-se de uma grande oportunidade para aplicar suas experiências, o conjunto indiscutível de suas competências e sua paixão pela navegação.

Antônio, naquele momento de empolgação, ansioso por se definir, comprou 50% da empresa na esperança de que seus conhecimentos de gestão acrescentassem valor à sua vida e ao novo negócio.

Ninguém tinha dúvidas sobre o que um homem com sua capacidade e experiência faria. Acabou por melhorar o produto, os projetos, os processos, a gestão de fornecedores, a infraestrutura organizacional, o modelo de gestão de equipe, a gestão financeira, de vendas e pós-vendas. Tudo isso associado ao grande zelo pela segurança das embarcações e a uma relação de forte credibilidade com o mercado. A empresa, em pouco tempo, passou a ser referência de gestão no segmento em que atuava.

Porém, à medida que o tempo passava, crescia nele a intranquilidade. Aparentava estar abatido com os riscos do negócio e com a informalidade do segmento em que atuava.

Dentro do processo de Coaching, concluiu que empreender elevou seu nível de estresse, ansiedade e insônia. A sua relação com a empresa não trazia felicidade pessoal. Decidiu se desfazer do negócio e encerrar esse capítulo de sua vida.

O que o levou a concluir isso?

Insights, que são entendidos como a percepção da solução de uma situação-problema que ocorre em um lampejo, podem – e devem – acontecer dentro de diferentes momentos: no uso de uma técnica, em uma pergunta perspicaz ou na devolutiva de um Inventário Comportamental.

Como o cliente estava em dúvida, durante seu Coaching de Carreira usamos um Inventário Comportamental – instrumento que possibilita a análise comportamental das pessoas para melhor avaliar quais atividades são adequadas ao seu perfil e ampliar seu autoconhecimento. Em minha devolutiva, quando estávamos integrando as competências e fortalezas em uma imagem clara, ele teve seu insight: de fato, havia um novo empreendimento que atendia a tudo o que sabia e adorava fazer. Tratava-se de um Ateliê de Ideias. Quando estava criando soluções e executando, conseguia estar inteiro, em paz e profundamente concentrado. Além disso, oferecer essas soluções em outro negócio permitia-o trabalhar em um ambiente perfeito. Era a vida que ele queria. Ao chegar a essa conclusão, seu sentimento foi de grande e total satisfação. Não restavam mais dúvidas.

Apesar de gostar de barcos e navegação, e da sua habilidade estratégica de gestão, a empresa na qual se tornou sócio não atendia ao seu core business pessoal. Por isso a relação empresário e empresa tornou-se fonte de sofrimento e desgaste pessoal. Ele entendeu esse processo e decidiu voltar à ideia sobre a qual estávamos trabalhando, antes da proposta do amigo. Com o Ateliê de Ideias, encontrou o empreendimento que atendia 100% as suas expectativas e necessidades. Foi em frente e fez acontecer. Atua hoje, com muito sucesso, surpreendendo clientes com soluções criativas e eficazes.

O caso acima ilustra a questão chave da relação do empresário com a empresa e o quanto ela é interdependente. Trata-se de um fazer mútuo. Se a empresa atende ao core business* pessoal do empresário, ela o fortalece, potencializando, assim, o bem estar, o crescimento e o sucesso de ambos. Se a interação com a empresa não satisfaz ao empresário, porém ele é muito competente, a empresa cresce mas ele não. A equação mais feliz é aquela que se retroalimenta.

O sucesso de ambos está, portanto, e como visto no caso acima, intimamente conectado ao core business pessoal e o real significado que a empresa tem na vida do empresário.

E você, já descobriu qual o seu core business pessoal?

A relação que você tem com sua empresa, promove o seu crescimento e o dela? É reforçadora de quem você é?

*Por core business pessoal entende-se o negócio que atende a sua identidade, a sua vocação; contempla missão e propósito, oferecendo o ambiente de trabalho próximo ao ideal para seu perfil.

BEE. Denise, HISTÓRIAS QUE ENSINAM: A RELAÇÃO ENTRE O AUTOCONHECIMENTO E A REALIZAÇÃO NA VIDA DE EMPRESÁRIOS DE SUCESSO, in: Empreendedor Total, 1ª ed. São Paulo: Editora Literare Books. 2017

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