Com a equipe sob controle. Os segredos de um dos quatro estilos de liderança!



Ana é jovem e muito dedicada ao trabalho. Ganhou a confiança dos sócios do grupo onde trabalha. Muito competente, responde hoje por três áreas de uma das empresas. Sua formação acadêmica de primeira linha, ao lado de um perfil ponderado, fazem dela uma profissional de destaque, merecedora do cargo que ocupa logo abaixo do Presidente, o Dr. Arthur. Mas a saúde dela não vai tão bem assim. Recentemente se flagrou com dificuldades para sair do carro no estacionamento e para entrar na empresa. Tem vontade de largar tudo e “sumir”. Já teve que sair da sua sala para esconder a angústia e a tristeza e tem pânico das reuniões com a Diretoria. Vontade e prazer de trabalhar? Zero! Seria a empresa? O seu trabalho? O dia a dia estressante? O peso da responsabilidade que assumiu deste jovem? Não! Bastam algumas perguntas durante uma primeira entrevista para perceber que esses são atores coadjuvantes. O ator principal é justamente o seu Presidente.

Jane é advogada e trabalha em um escritório de advocacia. Assumiu um cargo de gerência e responde para a sócia majoritária, Dra. Alice, cujo perfil detalhista e criterioso conquistou grandes clientes na pequena cidade onde está sediado o escritório. Jane ama o que faz, mas sente que não consegue crescer e realizar o que gostaria. No escritório tudo é decidido somente depois de passar pelo crivo da Dra. Alice. Ela corrige pessoalmente a maior parte das peças e visualiza os erros facilmente, o que incomoda Jane. Costuma corrigir em detalhes o trabalho dos advogados, o que consome muito tempo, gerando lentidão no andamento dos processos. Jane se sente presa, engessada e planeja deixar o escritório para seguir carreira solo.

O fato é que nenhuma liderança se legitima abaixo de um líder centralizador.

As crenças que “justificam” a desconfiança, o controle excessivo, delegar o mesmo trabalho para três pessoas, desfazer o feito, refazendo e modificando o trabalho dos demais, são várias.

O que pensa o líder centralizador? Ele pensa que é experiente, que enxerga o que ninguém vê, e que se ele não estiver por perto tudo sairá errado.

Algumas consequências deste estilo de liderança:

Os colaboradores, e até mesmo os sucessores, se afastam. Os três filhos do Dr. Artur, Presidente da empresa onde trabalha Ana, decidiram se afastar das funções administrativas ao lado do pai.

O sentimento de inutilidade e impotência costuma ser comum. Os funcionários são orientados a fazer X, mas quando o Presidente vê o que foi feito, ele diz: “Não, não, faça Y”. Mesmo nas pequenas coisas. Muitos se perguntam “então o que eu estou fazendo aqui?”. O líder dá a entender que ninguém é tão eficiente, e a crítica, muito aguçada, é sutil. Outros afirmam que “ele é muito chato porque é perfeccionista, focado em detalhes muitas vezes inúteis e não estratégicos”.

Questionar a sua desconfiança crônica, e como isso impacta os demais e a organização, não é tarefa fácil. Os demais líderes vão enfraquecendo à sua volta e não se legitimam diante dos colaboradores. Com o tempo os melhores deixam a empresa.

Vários colaboradores adoecem. O comportamento do líder gera um sentimento, reforçado diariamente nos seus liderados, de falta de importância, esforços em vão, desânimo. Conforme o perfil do liderado, se ele não obtém clareza sobre o que está acontecendo com ele e a causa de seu desconforto, o problema se agrava, e, então vêm as alterações psicossomáticas e emocionais.

A desmotivação vem da absoluta falta de realização pessoal. Se for uma pessoa jovem, ela não desenvolve a autoconfiança. Se for uma pessoa mais sênior, fica engessada e tolhida na sua iniciativa.

Os funcionários viram autômatos, trabalham para o centralizador, não para a empresa, e executam as atividades sem questionar ou pensar, do jeito que o líder exige.

A enorme dificuldade de delegação, sustentada pelo modelo mental do centralizador, não favorece o desenvolvimento, uma vez que somente ele se sente capaz de tomar as melhores decisões.

Deixo para vocês, leitores sagazes, a resposta para a pergunta que não quer calar: quais são as consequências para a empresa?

Mas quando o Dr. Arthur, ou a Dra. Alice, nossos personagens fictícios, passam a ter consciência a respeito de seus comportamentos, de modo transparente, a partir do impacto que eles provocam nos seus stakeholders, então esse quadro pode mudar.

Denise Bee: Counseling de empresários e executivos. Master Coach executiva, de carreira e de negócios, com mais de 25 anos de experiência em desenvolvimento de pessoas e empresas. Founder da Critério Humano – Desenvolvimento e Gestão de Pessoas. Coautora do livro Empreendedor Total.

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