Monocultura: será que todos nascemos originais, mas morreremos cópias?



Para mim, as férias me dão tempo extra para apreciar e observar o mundo e as pessoas em volta.

Observando a praia onde estou, notei como, a cada dia, ela oferece uma paisagem única. São variações de marés, de ondas, de tons azuis e verdes que nunca, nunca se repetem.

Estou hospedada num apartamento com alguns amigos e, do lado direito, há um grupo de Rondonópolis. No andar de cima há gaúchos, algo que também já fui, com sua música e sotaque típicos. E tem os argentinos, os italianos, os curitibanos etc.

Por que os turistas à direita usam aquelas grandes camionetes e ouvem canções mais populares enquanto os gaúchos tomam chimarrão somente ao som de músicas regionais? É fácil. Cada um se identifica com um clã, uma tribo, tornando-se como ela, adquirindo uma identidade coletiva. Pensa, julga, compra, bebe, se alimenta, se veste, tem preferências, se comporta, ou melhor, faz a réplica de comportamentos do grupo ao qual pertence.

Deparei-me pensando que isso faz todo o sentido na infância, quando precisamos aprender os códigos sociais para sobreviver e imitamos os adultos. E também, se estivéssemos numa era passada, onde a sobrevivência física estaria em jogo. E faz sentido hoje! Agora, na vida adulta, ainda temos medo de não sobreviver se não pertencermos a um grupo.

Na hierarquia de necessidades de Maslow, a social ou de pertencimento é a terceira; fazer-se membro de um clube onde figuram o ser aceito e receber afeto das pessoas próximas. Tudo certo até aqui! Sim, todos necessitamos nos unir com outros, socializar e sentir amor através de vínculos, e isso é uma coisa humana e nobre. Então será esta a motivação de tal aderência que faz com que identifiquemos primeiro o grupo ao qual pertence e depois, com muita sorte ou talvez nunca, a identidade daquela pessoa? Que ao observar o outro vemos sua cultura, e não sua individualidade?

Numa ocasião, fora do meu país, ouvi algo muito marcante: para amadurecer é preciso se abrir à policultura! Ou seja, ir conviver no interior de diferentes grupos. Não o fazer significaria correr o risco de replicar um só modo, onde há um “certo” e um “bom”! Quando alguém se abre para conviver no interior de outras culturas descobre que há muitos mundos, cada um com suas peculiaridades, e já não critica ou julga com a mesma facilidade de antes, já não pensa que o grupo onde nasceu é o único “certo” e “bom”. Vê a diversidade como diferentes tonalidades da vida e cores humanas, contempla-a como se fossem outras formas de beleza e as respeita como às paisagens na natureza.

Talvez a tolerância precise disso como pré-requisito para nascer dentro de nós.

Quando alguém escolhe viver sempre no mesmo grupo, e não se dispõe a conhecer o mundo do outro – o seu bom, o seu certo, a sua história –, talvez também abra mão de conseguir questionar e separar quem ele é individualmente, a prescindir do que fez dele o grupo ao qual pertence. É triste ver como isso se expande em intolerâncias radicais mundo afora.

Mas, quando tiramos nossos “vestidos” culturais, quem somos? O que resta como essência? Talvez no fundo haja o medo de que não reste nada, ou de não conseguir acessá-la!

A frase de Jung, “todos nós nascemos originais e morremos cópia”, tinha a intenção de ser um convite ao desafio. Para cada um que se redescobre além de sua monocultura e que, portanto, é capaz de relativizá-la ou, pelo menos, vivê-la a ponto de não perder a sua originalidade e respeitar a do outro, desejo um 2018 novo, redesenhado à luz da sua identidade mais profunda, portanto, única.

Denise Bee-

Counseling de empresários  e executivos.  Master Coach executiva, de carreira e de negócios, com mais de 25 anos de experiência em desenvolvimento de pessoas e empresas. Founder da Critério Humano – Desenvolvimento e Gestão de Pessoas. Coautora do livro Empreendedor Total.

 

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