Qual é a sua relação com o dinheiro?


Como superar conceitos ou ideias inúteis sobre o dinheiro e aprender logo a gerenciá-lo.

Eu tenho a felicidade de aprender muito convivendo com pessoas ao longo dos meus quase 30 anos de trabalho, primeiro como psicóloga e hoje como coach e counseling. Nesta semana quero compartilhar algumas sínteses sobre a relação que temos com o dinheiro. A moeda, apesar de ser um objeto neutro, tem significados muito diferentes para cada pessoa. E de onde eles nascem? Como foram introjetados? E quais consequências trazem para a sua vida?

Então, a primeira questão é: como você conceitua o dinheiro?

A segunda é: por que e como este conceito foi parar na sua mente?

E a terceira: quais consequências esse conceito traz para a sua vida?

O dinheiro é um objeto concreto, mundano, mas carregado de significados internos.

A forma como você o conceitua tem a ver com uma série de coisas. O objeto muda segundo o nosso ângulo de visão, as chamadas circunstâncias: se o dinheiro sobra ou falta, se ele vem fácil ou não, se você o recebe em mesada ou trabalha muito por ele, se você tem medo ou desejo por ele.

A relação herdada com o dinheiro: não nascemos sabendo o que é, mas fomos aprendendo seu conceito e grau de importância em família ou grupos de referência. Que significado o dinheiro tem na cultura do grupo onde você nasceu? Veja o depoimento de uma pessoa que precisou se desfazer dessa cultura:

“Nasci numa família cujos pais passaram fome. O dinheiro, eu aprendi a sentir medo de gastar, medo de não ter. Acabei ficando presa a ele.”

Anita, a autora da frase, era muito econômica, em excesso. Não se dava o direito de comprar ou usufruir, atrapalhando as suas relações com as pessoas pela forma mesquinha de se comportar.

O dinheiro compensa fraquezas? Conheci uma pessoa para quem o dinheiro representava segurança. Ela se sentia imperfeita nas relações sociais e o dinheiro representava seu próprio valor. Se ela tinha dinheiro, então ela era boa! A insegurança em relação a si mesma era compensada pelo dinheiro que ela sabia ganhar, como um trunfo, um modo de se afirmar. Então o dinheiro não servia para desfrutar, viver melhor ou dar melhores condições para sua família, mas sim para acumular. Ela se tornava desagradável quando contava quanto dinheiro tinha aos amigos e familiares.

Nossa sociedade ainda mede o sucesso de uma pessoa pelo tamanho de sua conta bancária, pelas coisas que possui, mais do que pela sua contribuição social, pelo seu valor como ser humano espiritual ou intelectual ou pela sua maturidade. O dinheiro é o valor maior? Para muitos sim, para muitos não! Para o empresário, que preferiu a morte à falência, sim.

Insucesso financeiro: esse é o problema mais frequente. E como, em nossa sociedade, dinheiro está atrelado ao sucesso, não o ter é sinônimo de inferioridade social. Quem não tem depende do serviço público de saúde, da bondade alheia, do empréstimo…

Menos comum, porém, é quando experiências negativas na infância criam uma associação entre dinheiro e mal. Olívia, a certo ponto do processo de coaching, percebeu o motivo de não conseguir ou demorar muito para cobrar seus clientes. Mesmo sendo uma profissional competentíssima tecnicamente, muito preparada, estudiosa e dedicada, essa dificuldade a limitava a conquistar sua autonomia financeira, premissa da vida adulta. Ao analisar a recorrente situação, encontramos uma imagem mental que a impedia de obter o reconhecimento financeiro de seu valor e do seu trabalho, impactando inclusive sua autoestima: “não consigo sucesso financeiro”.

Na raiz, associações não naturais estavam presentes. Olívia, lá atrás, recebia pagamento de uma determinada pessoa que lhe provocava uma forte sensação de ameaça e exercia sobre ela um poder fora do normal. A associação entre dinheiro e esse sentimento operava inconsciente e fortemente na sua vida atual. Algo como: “se ele me paga, tem poder sobre mim. Se ele não me paga, ainda sou livre”. A relação com o objeto dinheiro ficou deformada por emoções impróprias. O modo como a profissional interpretou os fatos vividos desde a infância era diferente dos demais familiares que também vivenciaram essas mesmas experiências. E isso determinou como ela, especificamente, “vivia” o objeto dinheiro.

Outra situação frequente envolve por que razões alguém perde dinheiro depois de tê-lo ganho. Lembro de um jovem empresário, inteligente, cheio de energia e determinação, que alcançou grande sucesso no ramo em que atuava. Todo mês, tinha disponível um alto pró-labore na conta bancária. Depois de certo tempo passou a ter um comportamento de consumismo exibicionista e desenfreado, num perfil com alta vaidade. Viajar para fora do Brasil se tornou possível e frequente, mas somente conseguia fazer um programa: shopping. Sentia ansiedade por comprar roupas, relógios, joias e outros objetos que nem conseguia usar, apenas por questões de imagem. Ele não conseguia usufruir de outra maneira das viagens, da boa situação financeira, e acabou caindo na armadilha dos seus vícios. Esse modelo de relação com o dinheiro estava presente no dia a dia, na gestão de sua empresa e nas suas finanças pessoais. Financiar altas festas, pagar exageradas gorjetas, sustentar vícios revelavam sua vaidade operando negativamente na continuação do sucesso inicial. Ele não tinha preparo mental para sustentar o dinheiro.

É bastante frequente a necessidade de reformular o conceito de dinheiro, repensar se são “suas” as ideias sobre ele a fim de entender como foram parar lá e se são funcionais, ou seja, se são úteis e funcionam bem na sua vida prática. O certo é que a relação com o dinheiro muda durante a vida se a pessoa está em aprendizado e evolução!

É verdade que há muitas coisas que só podemos fazer se tivermos dinheiro. Tantas ações, decisões e mudanças estão atreladas à capacidade de investimento. Ser livre? Ser o patrão do próprio tempo? Ter a vida tão sonhada? Viver de férias? Ser capaz de ajudar, de realizar ou de produzir algo útil para os outros e, com isso, gerar recursos financeiros?

Qual sua motivação para ter dinheiro?

E… qual sua motivação para não ter dinheiro? A qual propósito consciente ou oculto ele serve?

Este é um relacionamento inerente à atual vida em sociedade, não podemos fugir dele. Nas experiências dessas diferentes pessoas citadas também é um fato irrefutável, que demanda melhor reflexão, superar conceitos ou ideias inúteis sobre o dinheiro e aprender logo a gerenciá-lo. A realidade financeira é uma das áreas da vida e não a pilotar bem afeta todas as outras, traz perdas, infelicidade, desestrutura relações, sela limitações.

Por tudo isso, é preciso conhecer, e muito profundamente, a si mesmo!

Denise Bee: Counseling de Empresários e Executivos, Master Coach Executiva e de Negócios com mais de 25 anos de experiência em desenvolvimento de pessoas e empresas. Founder da Critério Humano-Desenvolvimento e Gestão de Pessoas. Coautora do livro Empreendedor Total.

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